domingo, 1 de dezembro de 2013

Quebrada de los Cuervos, Treinta y Tres, UY

   Ahh, o Uruguay! Existe terra mais tranquila e com maior simplicidade que essa? Cada vez que eu passo pela fronteira e sorvo o primeiro mate uruguaio, todas as preocupações e agitações que permeiam minha vida se desvanecem...
  Para aumentar ainda mais essa inebriação de espirito, somente indo a um lugar específico deste pequeno país: Quebrada de los Cuervos! Essa pioneira APN (Área Protegida Nacional) nos deleita com um oásis ao meio do interminável amarelento pampa nas Sierras del Yerbal. Quebrada de los Cuervos, como o nome diz, é um acidente geográfico em forma de garganta, oriundo da corrosão ocasionada pelo arroio Yerbal Chico, que serpenteia esses relevos agrestes a milhares de anos em seu trajeto até o Rio Olimar.
 Devido à quebra drástica da geografia local, há a formação de um microclima subtropical nas regiões do interior desse entalhe, abrigando assim animais e vegetais que não são encontrados fora dessa formação.
  Ali são encontradas cerca de 100 espécies de aves- entre elas os ameaçados caboclinhos de chapéu cinzento e de papo escuro, alma-de-gato, arredio do gravatá, pica-pau-branco e o urubu de cabeça vermelha, preta e amarela, os quais dão nome à quebrada-, 20 mamíferos - como o tamanduá e a lebre de Almada-, 18 anfíbios e 20 espécies de peixes. Ademais da fauna, 70% das espécies vegetais autóctonas do Uruguay encontram-se aí, entre elas, a planta mais cobiçada do Uruguay e Rio Grande do Sul: a erva-mate!
    Como de praxe, o pé de Samantha sempre recorre os lugares sem obter muita informação antes, devido a lacuna de conhecimento da internet ou pela falta de ânimo de perder o tempo que poderia estar viajando, buscando dados sobre o local de modo cibernético. Assim, após diversas caronas, proseando e cevando mates amargos com caminhoneiros, cheguei a entrada da estrada poeirenta de terra que leva à Quebrada. Essa estrada situa-se a 22 km de Treinta y Tres pela ruta 8 e, chegando aí, encontra-se algumas casas simples, nas quais fui buscar água quente para o mate que tomaria enquanto caminhasse até a sede do parque. Falando com moradores, que me receberam de modo muito simpático, estes ficaram atônitos quando disse que pretendia caminhar até o parque, porém, não dei muita bola e disse que estava acostumada a tais caminhadas longas. Assim, segui meu destino. 
     Na beira da Ruta 8, na entrada para a estrada, também há um pequeno armazém chamado "El Convoy", no qual se distribui panfletos informativos sobre o caminho a ser tomado até a APN. Depois de comprar pães e vegetais para passar alguns dias, olhei o mapa e, para minha surpresa, a longa caminhada era mais longa do que eu imaginara. Após os 22 km desde a cidade, ainda é necessário percorrer mais 23 km pela estrada secundária até o prédio sede. Porém, devido a aura obtida pela entrada no país da tranquilidade, segui caminhando pela estrada com o seguinte pensamento "aproveitarei a noite inteira de caminhada para me deleitar com o céu de brigadeiro que só o interior inóspito proporciona". E assim fui...
    O caminho é lindo e nos faz acostumar com a paisagem seca e homogênea do pampa, como que se fora um passo para aumentar o deslumbramento com o parque à porvir. Mas, as horas passam, a caminhada cada vez pesa mais e a meta parece nunca se aproximar. Foi então, por volta da meia noite, que uma camionete passou por mim e, como que se fora um anjo sussurrando no ouvido do motorista, este voltou e perguntou se eu queria uma carona.
     Era uma sexta-feira, dia em que famílias de toda a região dirigem-se ao parque para aproveitar a linda paisagem e interagir com seus parentes em longas tertúlias (logo, para evitar muitas pessoas, procure visitar o parque em dias de semana e fora de feriados). Ao subir na camionete, onde já se amontoavam umas 10 pessoas, muitas perguntas me foram feitas e outras dirigiram-se a eles. Assim descobri outro detalhe interessante do parque: além do camping, churrasqueiras e banheiros com água quente, o parque oferece 3 cabanas com capacidade para até 6 pessoas. Ambos os serviços são pagos, sendo a entrada, com camping incluso, irrisórios 50 pesos uruguaios.
      Assim, chegando a Quebrada, conversamos com o guardaparque e me instalei na área de camping, não antes de ser convidada à cabana da família para provar os pães e doces que uma das mulheres produzia, acompanhado de boa charla e mais mate uruguaio.
     Na manhã seguinte, depois de tomar um banho e mais um mate de café da manhã (com água esquentada na sede), segui pela estrada que nos leva à quebrada... A sensação é extasiante! Após um dia inteiro vagando sobre as coxilhas desertas do interior do Uruguay, a imagem do grande vale de coqueirais e árvores abundantes beirando o rio é impactante! A trilha interpretativa de quase 3 km baixa até o arroio cristalino onde é permitido banhar-se, passa pelos bosques e sobe novamente ao topo da serra ainda pelo meio da vegetação.
   Além da linda paisagem da garganta em meio à serra, podemos seguir as placas que levam até uma pequena e energizante cascata fora das áreas preservadas da Quebrada de los Cuervos. Passando dois portões que impedem os rebanhos de bovinos e caprinos adentrarem ao parque, encontramos uma casa, cuja dona cobra 15 pesos uruguaios para entrar em suas terras para conhecer uma laguna e a cascata (porém, no dia que eu fui, não havia ninguém cobrando). Caminhando alguns minutos, chega-se até as atrações citadas, cujo ambiente requer momentos de contemplamento sentado nas margens de suas águas.
   
  Nesse mesmo percurso, também é possível ver um pouco da cultura gaucha, onde homens pilchados montados em seus cavalos e seguido por seus cachorros fiéis, conduzem seus rebanhos até locais de bom pasto ou mais abrigados no pampa. Muitas árvores frutíferas também são encontradas no caminho, como uma das frutas mais típicas do Uruguay, o pomelo (um misto de laranja e lima), o qual é utilizado na produção de sobremesas e bebidas.
       À noite, após chegar no camping, dormi um sono profundo de contentamento sob o céu mais estrelado que já vi em toda minha vida... Na manhã seguinte, iniciei a caminhada de 23 km até a estrada para pedir carona. Porém, no meio do caminho, um pampeano pilchado e com seu mate à mão me deu carona até sua propriedade, a partir da qual continuei caminhando, até que a mesma camionete guiada por anjos passou por mim novamente, me levando até a rodovia, onde pedi carona até chegar novamente à minha casa...
 

6 comentários:

  1. Muy lindo relato Samantha!! Felicitaciones por la iniciativa del blog y gracias por compartirnos tus experiencias del camino. Mucha suerte!! :)

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  2. Gracias, Leandro,
    es re bueno compartir mi conocimiento sobre la linda Latinoamerica con todos!
    Energias positivas!

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  3. Fantàstico!!! Vale ese espíritu aventurero de los mochileros!!!
    En Tacuarembó, también hay un lugar super.... es el Valle Edèn, vale explorarlo y llegar al Pozo Hondo!!!

    Perla

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    1. Hola, Perla,
      voy hacer un post sobre Valle Eden también! Me encantó ese lugar, así como Quebrada de los Cuervos!

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  4. Oi Samantha - obrigado pelas belas narrativas com teu espírito aventureiro!

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